O London Bike Show 2016

O London Bike Show dominou a cena do ciclismo em Londres entre 11 e 14 de fevereiro. Para mim essa foi uma nova experiência uma vez que eu nunca tinha ido a uma antes. Foi meio que uma maratona de trens, Metro e DLR para chegar até ao centro de exposições ExCel em Londres, mas valeu a pena. Uma vez que eu estava cobrindo a feira para a Revista Bicicleta eu consegui um passe de imprensa para o show.

Ele contou com mais de 50 mil visitantes e mais de 300 expositores nas categorias de Vestuário, Bicicletas, Eletrônicos, Inovação, Desempenho, Caridade, Componentes, Nutrição, Turismo, comercio, acessórios e outros.

Entre os diversos fabricantes de bicicletas haviam mais de 50 stands, mostrando o que existe de melhor nas variadas modalidades do ciclismo atual. Dentre eles, muitas marcas que eu, pessoalmente, nunca havia ouvido falar antes como a Radon, da Alemanha e a Wilier da Itália. Desnecessário mencionar a participação das grandes marcas como Specialized, Cannondale, Cube, Giant, Scott, Boardman, Surly, Orange e muitas outras, que tomaram a maioria dos espaços na exposição com seus grandes stands. Senti, entretanto, a falta de algumas grandes marcas também.

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Bicicleta Stealth

Destacaram-se esse ano as bicicletas elétricas e hibridas. Praticamente todos os fabricantes tinham no mínimo 1 oferta em exposição, sendo que alguns fabricantes como a Inglesa Oxigen e a Australiana Stealth não produzem nenhum outro tipo de bicicletas senão elétricas.

Em termos de ciclismo havia realmente de tudo um pouco e em alguns casos “de tudo um muito” para deixar deslumbrado qualquer entusiasta do esporte, principalmente aqueles com bolsos mais fundos. Modelos de bicicletas profissionais com preços acima de US$ 10.000,00 podiam ser encontrados com facilidade na feira.

A feira também contou com celebridades como o Sir Chris Hoy, o mais condecorado ciclista de todos os tempos, 11 vezes campeão mundial de ciclismo de pista e 6 vezes medalha de ouro nas olimpíadas de 2004, 2008 e 2012. Dentre outras celebridades do ciclismo estavam também Greg LeMond, 3 vezes vencedor do Tour de France e Steve Peat, uma legenda do Mountain Biking de Downhill. Durante a feira, competiram também, por um prêmio de € 10.00000, 40 dos melhores “freestyle bikers” da atualidade, em um evento intitulado “Air to the Throne” (*).

P1000425Juntamente com a London Bike Show os visitantes puderam também aproveitar 3 eventos em paralelo na mesma área de exposições: O Triathlon Show, patrocinado pela Honda, O “Outdoor Adventure & Travel Show”, expondo os mais variados equipamentos para acampamento e destinos turísticos, e a London International Dive Show (exposição de equipamentos de mergulho) que em várias grandes piscinas permitiu que visitantes nadassem e testassem equipamentos dentro da agua.

P1000405Apesar de todas estas atrações acredito que a maioria dos visitantes, assim como eu, estavam interessados em novidades que permitissem um melhor aproveitamento da sua paixão ciclística, seja ela de competição, aventura, lazer ou turismo. Como minha preferência é por viagens de bicicleta, minhas atenções foram voltadas para este setor. Aproveitei a feira paralela de equipamentos de acampamento e verifiquei as várias opções de barracas, algumas com preços acima de US$ 2.000,00 e fabricadas com os materiais sintéticos mais resistentes e leves da atualidade assim como fogareiros e outros. Destaque para barraca Terra Nova Ultra Lazer 1 (para 1 pessoa) com peso de menos de 0.5 Kg.

As opções em termos de marcas, modelos e estilos de bicicletas foram de fato tão variados ao ponto de que se o visitante não fosse ao show com uma clara ideia do que queria ver, corria o risco de ser simplesmente sobrecarregado de informações. Havia uma grande pista de testes em um dos lados da área de exposição, no qual os visitantes podiam fazer um “test-drive” de muitas das bicicletas oferecidas pelos fabricantes. Das 7 horas que passei na feira, eu pessoalmente, testei apenas 3 modelos: 2 elétricas e 1 urbana. Não encontrei na feira muitas opções de bicicletas touring usadas para viagens de longa distância, mas encontrei algumas inovações interessantes na área de iluminação e uso eficiente do espaço e peso nas bicicletas.

P1000345Impressionou-me a tecnologia de geração de eletricidade por dínamo eletromagnético da Revo, capaz de manter uma potência de 800 Lumens de luz com praticamente nenhum arrasto na roda, bem como luzes de LEDs de 4.000 Lumens, Six Pack MK6, extremamente potentes, com baterias capazes de durar por quase 4h na potência máxima e 31 horas na mínima, que já é bem forte, contando com um display OLED e controles digitais na parte de trás. Desnecessário dizer que estes brinquedos não são baratos, com o kit de dínamo e luzes custando por volta de £300 (US$ 430) e £400 (US$ 577) para a lanterna de 4.000 lumens respectivamente. Haviam vários outros expositores mostrando inovações muito interessantes nesta área.

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AQUAir da NEOS

A Topeak trouxe ao seu stand opções interessantes de bolsas para os mais variados usos, desde bolsas para quadro e ferramentas até alforjes de vários tamanhos, mas o que mais me impressionou foram algumas novidades como uma minúscula bolsinha de ferramentas essenciais embaixo do suporte da Caramalhola de agua, bem como uma bomba de ar desenhada para ir dentro da barra do selim da bicicleta. Outro impressionante uso de espaço que vale a pena mencionar é dispositivo fabricado pela NEOS chamado AQUAir para anexar 2 suportes para caramalholas, 2 cartuchos de CO2, um tubo de inflar e um câmara de pneu extra tudo de baixo do selim.

P1000272Para quem gosta de engenhocas eletrônicas a Kodak estava demonstrando sua nova câmera capaz de filmar 360º em resolução 4K. Notadamente, senti a falta de empresas como a GoPro e Sony que são líderes de mercado nesta área.

Outra área que senti que estava mal representada foi a de bicicletas especiais, como bicicletas e triciclos reclinados. Haviam alguns fabricantes, mas em uma percentagem insignificante em relação as bicicletas de pista e de Mountain Biking que praticamente dominaram o salão. Me chamou a atenção um estande com bicicletas tandem (bicicletas de 2 assentos) hibridas, na qual o ciclista de trás pedala sentado em um selim convencional e “dirige” a bicicleta enquanto que o ciclista da frente pedala deitado e apenas se apoia em um guidão falso.

Acessórios e partes não foram um ponto de interesse pessoal na feira, mas visitei os stands da Continental e da Schwalbe a procura dos pneus ideais para a próxima viagem que estou planejando e achei algumas novidades interessantes como um cabo para prender a bicicleta da LiteLok, que segundo o fabricante obteve a mais alta classificação de segurança pela “Sold Secure”, uma instituição Britânica de testes para produtos de segurança.

P1000387Também achei interessante o capacete dobrável da Overade, que, para quem faz viagens longas de bicicleta, pode ser uma opção interessante pela economia de espaço.

Talvez uma das áreas de interesse para aqueles que vivem em lugares frios no inverno, seja a possibilidade de pedalar a sua própria bicicleta dentro de casa sem sair do lugar (pedalar em rolo). A Tacx trouxe para a stand do conselho de turismo do País de Gales um simulador virtual que se conecta a servidores na internet permitindo competir em vários tipos de trilhas com pessoas em qualquer lugar no mundo. O sistema determina a resistência do rolo de acordo com a simulação digital de alta resolução sendo mostrada na tela em frente ao ciclista. Acredito que se a tela for grande o suficiente a sensação de imersão é muito adequada e conforme eu próprio constatei nas duas vezes que experimentei é um excelente exercício.

P1000338Para finalizar, a boa notícia aos proprietários de Lamborghinis básicas é que agora é possível transportar sua preciosa bicicleta no teto de seu veículo através de ventosas de sucção especiais, mas se elas arranharem a tinta vermelha, não reclamem para mim.


(*) “Air to the Throne” traduz para “Ar para o trono”, mas é em um trocadilho da frase “Heir to the Throne”, “Aspirante ao trono”.

London Bike Show 2016
Clique na imagem acime para abrir o album completo das imagens do show no Flicker.

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Caminho de Santiago, Dia 13: De Sarria para Palas de Rei

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Pinturas de parede na Igraje de Santa Maria, Sarria.

Bem-vindo ao post sobre o 13o. dia da nossa peregrinação de bicicleta pelo caminho de Santiago no dia 6 de junho de 2015. Completamos esta etapa de 50.57 Km de Sarria para Palas de Rei em 7h e 58m, das quais 4h 2m foram em movimento.

Este foi um belo dia de pedal na companhia de novos e velhos amigos. Marcelo, Alice e eu deixamos o albergue em Sarria por volta das 8:30 da manhã a procura de algum local para tomar café da manhã ao longo do caminho para sair da cidade. Estávamos empurrando nossas bicicletas na “Rúa Maior” e passamos ao lado de um café / restaurante chamado “La Taza Magica” (a Taça Magica) e decidimos ficar ali para o café da manhã. Fernando chegou uns 15 minutos depois vindo de Samos, onde ele havia pernoitado na noite anterior.

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Dr Guy Heron tirando uma selfie de estrada

Depois do nosso delicioso café da manhã, subimos nas bikes, mas paramos logo em seguida em um mercado popular onde Fernando comprou uma caixa de cerejas por apenas € 3,00.

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Ponte sobre o reservatório de Belesar, próximo a Portomarín.
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Transferindo a foto para a pagina do Facebook

Ao deixarmos a cidade, enquanto investigávamos o melhor caminho para sair dela, encontramos com Guy, um médico de Sydney, Austrália, que também estava fazendo o Caminho de Santiago de bicicleta desde Saint Jean.Eu entendi que Guy havia comprado um “pacote ciclístico” na Austrália o qual já incluía todas as acomodações, bem como a transferência da bagagem de uma cidade para outra ao longo do Caminho. Só o que ele precisava fazer era seguir o roteiro fornecido pela empresa de turismo. Estou mencionando isso aqui pois pode ser de interesse para outros peregrinos saber que tais opções existem e tornam a peregrinação ainda mais fácil. Creio que existem opções de pacotes similares para quem quer fazer o caminho a pé também.

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Cidade de Portomarín ao fundo

Bem, depois de um pouco de conversa, Guy se juntou ao nosso pequeno grupo de peregrinos fazendo com que esse grupo se tornasse o maior em que eu pedalei ao longo do caminho. Às vezes não é muito fácil pedalar em grupo, pois cada membro do grupo precisa respeitar as características e ritmos dos outros membros, mas nesse dia nosso grupo se deu muito bem. Como não estávamos com pressa, fizemos várias paradas também.

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Marcelo e Alice cruzando a ponte para Portomarín

Para falar a verdade, não há muito o que dizer sobre este dia. Mais ou menos 3/4 dos 50 Km que pedalamos neste dia foram na LU-633 (a mesma estrada que eu deveria ter pego ao chegar em O Cebreiro no dia anterior).

Depois de deixar Sarria fizemos uma pequena parada em um posto de gasolina em Paradela, que fica a uns 16 Km de Sarria e seguimos para Portomarín, uns 10 Km adiante (cerca de 26 Km de Sarria).

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Esta escadaria é tudo que restou da ponte Romana construída no século 2 e que foi destruida por Doña Urraca.

Em Portomarín fizemos uma parada mais longa para carimbar nossas credenciais de peregrino, tirar algumas fotos da igreja de San Juan (que se parece com uma fortaleza) e para comer algo juntamente com uma gelada cerveja espanhola. Portomarín é um lugar muito interessante e eu recomendaria uma parada mais longa se possível.

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A igreja de San Nicolás, construida no século 12. Da esquerda para direita, eu, Alice, Marcelo e Fernando.

Depois da nossa pequena parada em Portomarín, que durou algo como 30 min., seguimos pedalando na LU-633. Fizemos outra rápida parada em um vilarejo chamado Gonzar em um bar de beira de estrada chamado “Descanso del Peregrino”, para beber algo gelado e, entre nós 5, comemos praticamente todas as cerejas que o Fernando estava trazendo desde Sarria. Por alguns minutos se juntaram a nós também, duas peregrinas da Alemanha, que ao saberem que Guy era médico pediram alguns conselhos médicos.

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Sempre algo interessante para ver.

Uns 5 Km depois de Gonzar, em uma localidade conhecida como “O Hospital”, a LU-633 parece que acaba em uma rotatória. Cruzamos por cima da N-540 e pegamos uma pequena estrada no sentido de Ventas de Narón, cujo nome não consegui descobrir.

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Fotos das formigas típicas dessa região na Espanha. Aconselharia voce não mexer com elas.

Nesta pequena estrada cruzamos por vilarejos muito interessantes como Ligonde, Airexe, Portos (com suas esculturas de formigas gigantes), Lestedo e Os Valos. Este foi um trecho muito bonito com muitas arvores ao lado da estrada e muitas coisas interessantes para ver. Depois de Os Valos nós tomamos a N-547 até Palas de Rei que ficava apenas a 3 Km de distância.

Palas de Rei SignAo chegarmos em Palas de Rei, primeiramente fomos a um albergue chamado Albergue Buen Camino. Eu não entrei no Albergue, mas o Fernando e o Marcelo entraram e saíram um pouco decepcionados. Decidimos então pernoitar no Albergue municipal que cujo pernoite era 6 €. O albergue é bom e limpo.

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O Albergue Municipal de Palas de Rei

Uma vez que a acomodação em Palas de Rei já estava incluído como parte do pacote que Guy comprou na Austrália, ele não permaneceu no Albergue conosco, mas ele uniu-se a nós novamente no dia seguinte e pedalou junto conosco parte do nosso caminho para Santiago.

Bem, isso conclui o post sobre o 13. dia da peregrinação. Curto e grosso desta vez 🙂

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Day 13, Camino de Santiago, 6th Jun 2015
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EyeCycled Bike Vlog: Pergunta sobre o Caminho de Santiago e London Bike Show

É Quinta-Feira e dia de outro Bike Vlog. Como eu estava recebendo reclamações da familia no Brasil sobre não produzir coisas em Português, decidi fazer um esforço e gravar em Português tambem, mas essa será uma excessão, não a regra. Da muito trabalho produzir isso em vários idiomas 🙂 Devo confessar que quando me propus a gravar estes “Vlogs” eu não estava muito confiante na minha habilidade de manter uma rotina semana, mas por enquanto esta funcionando. Nest “Vlog” eu….

  1. Respondo uma pergunta feito por Roberto Moro através do formulário de contato no site.
  2. Falo sobre o London Bike Show neste Sabado, 13 de Fevereiro, o qual vou estar cobrindo para o Blog e para a Revista Bicicleta.(quero saber se existe algo em especial que voces querem que eu cubra)
  3. Falo sobre o futuro “Post” a respeito do 13o. dia da peregrinação no Caminho de Santiago de bicicleta

Se voce tiver gostado, por favor, clique no Dedo Positivo no YouTube, indique abaixo nas estrelas e compartilhe nas redes sociais. Obrigado!

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Caminho de Santiago, Dia 12: Las Herrerías para Sarria

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Albergue Las Herreíras (Hostel)

Bem-vindo ao post sobre o 12o. dia da minha peregrinação de bicicleta pelo caminho de Santiago no dia 5 de junho de 2015. Completei esta etapa de 63.82 Km de Las Herrerías para Sarria em 8h e 12m, dos quais 5h 14m foram em movimento.

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Subindo a montanha entre Las Herrerías e La Faba

Devo confessar que estava temendo ter que escrever sobre esse dia, pois foi nele que cometi o maior erro de navegação de toda peregrinação. Me senti (e ainda me sinto) como um tolo por ter cometido erros tão básicos, mas se este “post” e vídeos ajudarem a prevenir com que outros cometam os mesmos erros, então terá valido a pena. Meu ego terá que aceitar o impacto 🙂 Deixei o albergue in Las Herrerías por volta das 7:30 da manhã, uns 30 min antes do que estava acostumado nos dias anteriores. Eu sabia que o dia seria pesado e cansativo por causa das montanhas a minha frente. Fernando deixou o hotel uns 40 min antes, eu acho. Ele está acostumado a acordar com as galinhas.

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Momento de decisão… La Faba ou La Laguna? Deveria ter ido por La Laguna, mas fui por La Faba.

Cheio de energia e disposição comecei a pedalar morro acima, mas sem meu navegador ao meu lado para indicar o caminho (meu senso de direção deixa muito a desejar), não demorou muito para eu cometer o primeiro erro. Quando cheguei a uma encruzilhada e tive que decidir se continuava na pequena estrada que vinha pedalando (a CV-125/1) na direção de La Faba ou se pegava outra pequena estrada na direção de Laguna (a CV-125/15), decidi continuar no sentido de La Faba (não havia nenhuma seta amarela indicando qual caminho seguir).

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Voce conseguiria pedalar morro acima aqui com uma bicicleta de touring carregada?
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Apenas um dos muitos obstaculos que o peregino de bicicleta tem que sobrepor entre La Faba e La Laguna.

Devo acrescentar que este erro diz respeito apenas aqueles peregrinos que estão fazendo a peregrinação de bicicleta. O caminho que eu tomei foi essencialmente o mesmo que os peregrinos a pé tomam, o qual, após passar pelo vilarejo de La Faba é totalmente inadequado para a maioria dos ciclistas (ou Bicigrinos, como alguns os chamam). É uma trilha de 4 Km morro acima cheia de pedras e obstáculos. Eu acho que até mesmo aqueles que vão a pé, com uma pesada mochila nas costas, devem sentir muita dificuldade neste trecho, que dirá aqueles que se metem a fazê-lo de bicicleta. Para todos aqueles lendo este artigo e planejando fazerem a peregrinação de bicicleta, façam a vocês próprios um favor e peguem a pequena estrada para La Laguna. Ela é uns 2 Km mais longa, mas vale a pena, acreditem.

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A materia marrom deixada pelos cavalos ao longo deste trecho e as “megaziliões” de moscas em torno deles

A pior parte desses 4 Km na verdade não foi nem ter que empurrar a bicicleta morro acima. Foi a enorme quantidade de moscas devido à grande quantidade de bosta de cavalo no caminho. Em Las Herrerías é possível se alugar cavalos para carregar as mochilas e outras cargas (não é uma chantagem uma vez que o peregrino sobe o Cebreiro a pé de qualquer forma… os cavalos apenas levem a carga). Obvio que os cavalos deixam “traços” para trás. Cheguei em La Laguna com um sentimento de vitória, mas estava realmente cansado de empurrar a bicicleta por 4 Km e por isso foi também uma subida demorada. Tao devagar, de fato, que naquele ponto alguns peregrinos que estavam a pé e que haviam deixado o albergue depois de mim me alcançaram em La Laguna, pois eu havia parado por alguns minutos para beber um suco de laranja e comer uma banana. La Laguna, entretanto, ainda não é o topo do Cebreiro. Depois que La Laguna existem ainda uns 2 Km para se chegar ao topo e a subida foi íngreme o suficiente para me fazer desmontar da bicicleta e ter que empurra-la novamente (eu diria que em alguns trechos a inclinação é de aprox. 12%… São 150 metros de Ascenção em 2 Km).

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Este foi o maior erro de navegação que cometi durante toda preregrinação. Eu não vi a seta amarela.
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A vista a partir do Cebreiro é espetacular.

Finalmente ao chegar no vilarejo de O Cebreiro eu parei para admirar a paisagem e tirar algumas fotos. Assim que terminei com as fotos decidi não entrar no vilarejo (o que eu devia ter feito) e seguir adiante. Infelizmente eu não vi a seta amarela que indicava para dentro do vilarejo, o qual deve-se cruzar para pegar a estrada LU-633 na direção a Liñares. Eu continuei na pequena CV-125/1 e com toda felicidade passei a pedalar morro abaixo no sentido errado por mais de 6 Km, até um ponto em que uma senhora fez u típico gesto de “não” com os dedos. Devo confessar que naquele momento eu já estava desconfiado do caminho que havia tomado, mas sabe-la Deus quando até onde eu teria continuado não fosse aquela senhora me avisar do meu erro. Ela explicou meu erro e pacientemente me instruiu sobre a melhor maneira de voltar para o caminho.

Google Earth, Wrong and Right Way, O Cebreiro
Em AZUL o caminhei que eu tomei. Em VERMELHO o caminho que eu devia ter tomado 🙁

Anjos existem de várias maneiras e formas. Nos 6 Km que desci o morro até chegar a ela, não havia visto uma única viva alma pela estrada. Ela estava à beira da estrada, como que esperando por algo, vestida de camiseta branca e assim que me explicou o caminho certo foi embora. Todos somos anjos quando ajudamos a outras pessoas, mas para mim esse momento me tocou muito (depois, porque na hora fiquei muito puto comigo mesmo). Acreditem no que quiserem, mas para mim foi Deus que colocou aquela pessoa ali naquele momento para me avisar sobre o erro e me mandar de volta para o caminho certo. Por isso deixo aqui o meu “Muito obrigado senhor!”.

Bom, como você pode imaginar a frustração de ter que aceitar o meu erro, só foi menor pela realização que de agora teria que subir os 6 Km de volta morro acima, depois de uma manhã já bem cansativa, mas se era isso que o universo havia preparado para mim, era isso que eu tinha que fazer, e o fiz! Felizmente as instruções dadas pelo meu anjo foram claras e precisas e com algumas verificações pelo caminho não foi necessário voltar diretamente ao Cebreiro. Voltei ao caminho correto, próximo ao vilarejo de Liñares 1h e 38 min depois. Resultado do erro foi a “perda” de 2 h de viagem e a necessidade de pedalar uns 10 Km a mais nesse dia desnecessariamente, dos quais uns 8 Km foram morro acima.

Depois disso você poderia pensar que o resto do dia foi moleza… bem, não foi tão ruim, mas como passei a prestar mais atenção as setas amarelas, depois da localidade de Hospital, elas me levaram novamente a alguns trechos inadequados para bicicletas (elas têm em mente o peregrino que está a pé). Mesmo assim estes foram relativamente curtos se comparados aos que tive que fazer nestas condições pela manhã. Eu aconselharia que se você estiver pedalando neste trecho, você permaneça na estrada (LU-633) até aproximadamente 1 Km depois do vilarejo de Fonfria, onde então você pode voltar a seguir as setas amarelas se desejar, pois o caminho dos andarilhos a partir deste ponto é plano e sem maiores obstáculos e você “economizará” por volta de 2 Km em relação ao mesmo trecho no asfalto.

Se você decidir pegar o caminho dos andarilhos depois de Fonfria, conforme eu aconselho, mais ou menos 1 Km depois do vilarejo de Fillobal você terá a oportunidade de voltar a LU-633 novamente. Deste ponto em diante eu decidi que já tinha sofrido o suficiente para um dia e que iria permanecer na estrada, independentemente para onde as setas amarelas apontassem. Eu sabia que essa estrada me levaria a Samos e Sarria. Eu não sabia ao certo em qual dessas duas cidades eu me hospedaria, mas a intenção era de pedalar pelo menos até Sarria.

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No reboque que ele puxava, estava o cachorro dele.
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Monastério de Samos

Ao longo dessa estrada passei por pequenos vilarejos e cidades como Pasantes, Triacastela (onde encontrei com um peregrino em um triciclo reclinado, puxando atrás de si um trailer que continha uma caixa onde viajava seu cachorro), San Cristovo do Real, Renche, San Martiño do Real e Samos. Eu não sabia naquele momento, mas foi em Samos que o Fernando havia decidido parar naquele dia. Cheguei em Samos ainda as 2 da tarde e achei que estava muito cedo para parar e por isso decidi seguir para Sarria. Parei apenas por alguns minutos para carimbar meu passaporte de peregrino no albergue municipal se segui viagem. Adiciono aqui algumas fotos tiradas pelo Fernando, a pesar de eu próprio não tem vivenciado a cidade. De Samos para Sarria foram mais 12 Km, mas eu estava bem cansado de tanta subida neste dia, por isso decidi parar mais cedo em Sarria para descansar. No caminho a Sarria passei por pequenas vilas com nomes gauleses bem distintos, como A Ferrería, Teiguín, O Vao até chegar a Sarria por volta das 3 da tarde. Sarria é uma cidade bem desenvolvida e eu segui as setas amarelas na esperança que me levariam a um albergue.

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Pinturas ao longo do muro da igreja de Santa Marina em Sarria.

Por pura sorte, ao pedalar por uma rua da cidade passei ao lado de uma loja de souvenires e dei uma olhadinha para dentro, sem intenção de parar. Nesse momento em vi Marcelo e Alice dentro da loja. Resolvi parar para dar um “oi” e perguntar onde eles tinham a intenção de permanecer naquele dia. Eles ainda não sabiam se ficariam em Sarria ou seguiriam mais uns Km adiante, mas quando lhes falei que iria ficar ali decidiram parar também e me fazer companhia. Perto da loja de souvenires havia um albergue particular chamado Casa Peltre. Alice entrou no albergue para dar uma olhada e voltou dizendo que achava que era muito bom. O pernoite foi € 10 e o albergue é limpo e confortável com uma fascinante decoração (deem uma olhadinha no site deles para mais fotos). Maria, a “hospitaleiro” que nos recepcionou é uma pessoa super legal.

O albergue é pequeno e dispõe de apenas 22 leitos distribuídos em 3 quartos. Um grande quarto com 14 camas (6 beliches) e mais 2 quartos com 4 camas cada (2 beliches). O albergue dispõe de 2 espaçosos e muito limpos banheiros, com duchas de pressão e ótima água quente. Também dispõe de uma cozinha completa e uma área de refeições no andar de cima.

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Uma recompensa bem merecida. Marcelo, um amigo que fiz no Caminho.

Depois de um banho, o Marcelo e eu saímos para procurar algo para comer. Alice estava se sentindo muito cansada e resolveu ficar no Albergue. Achamos um restaurante de Kebabs no calçadão do rio Sarria e enchemos a barriga de Kebabs. Saímos de lá para caminhar mais um pouco por volta da cidade até encontrarmos um “tapas bar” chamado “Mesón O Tapas” e tomamos umas deliciosas cervejas espanholas bem geladas.

IMAG1456Foi um dia de emoções variadas: O aspecto físico do desafio de empurrar a bicicleta no caminho entre La Faba e o Cebreiro, as frustrações dos erros de navegação que eu cometi nesse dia, a benção de ter tido em meu caminho um anjo que me trouxe novamente ao caminho certo e a alegria de ter encontrado no final do dia bons amigos da Caminho. Com certeza o dia teria sido melhor sem os erros que eu cometi, mas daí eu não teria aprendido a errar e não teria essa oportunidade de passar a experiência para frente. Foi um dia bom, no final das contas. Bem, isso conclui o post sobre o 12. dia da peregrinação. Por favor deixe comentários, perguntas ou pelo menos indique se você gostou ou não ao clicar nas estrelas abaixo.

Day 12, Camino de Santiago, 5 Jun 2015
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Seeing the world one pedal stroke at a time