Olá mais uma vez e bem-vindo ao quinto post sobre o quinto dia da minha peregrinação de bicicleta pelo caminho de Santiago no dia 29 de maio de 2015. Completamos esta etapa de 97.26 Km de Santo Domingo de la Calzada para Hornillos del Camino em 7h e 36m, dos quais 5h 38m foram em movimento.
Este “post” provavelmente vai ser mais curto que os anteriores, não porque tenho menos a escrever, mas porque tem sido difícil encontrar tempo para produzir estes posts e vídeos e também porque pedalamos mais nesse dia que nos anteriores e assim paramos menos vezes para fotos, etc. Por favor, entre em contato se você tiver alguma pregunta que não for respondida aqui.
Eu deixei o albergue em Santo Domingo as 8 horas da manhã, como de costume, mas Fernando decidiu sair 1h antes e por isso pedalamos os primeiros 70 Km até Burgos cada um por si. Nos encontramos em Burgos mais tarde para almoçarmos juntos.
O “Caminho” não é só a rota a ser feita, mas também um tempo para se refletir sobre a vida e esse tipo de reflexão é melhor feita sozinho. No tópico “reflexões” uma coisa interessante que reparei durante a peregrinação é que os peregrinos, mesmo quando andando em pares ou acompanhados tendem a estarem bastante mergulhados em seus próprios pensamentos e com frequência caminham em total silencio. É claro que também tem muita risada e alegria, mas para muitos a peregrinação tem um sentido espiritual e provem a eles um tempo para pensar na vida até aquele ponto. É por essa causa que muitos peregrinos mudam seus estilos de vida após a peregrinação, não por causa do caminho em si. Eu honestamente acredito que isso algo que todos nós deveríamos fazer com uma certa frequência (uma vez a cada 2 ou 3 anos, talvez). Dar-nos tempo para refletir sobre nossas vidas, mas não para ficarmos sentados no sofá da sala sentindo pena de nós mesmos. Enquanto se caminhar ou se pedala o pensamento toma uma forma interessante e produz um maravilhoso efeito de claridade. Algo a ver, provavelmente, com o fato de que você não está apenas mentalmente, mas também fisicamente ativo, e que faz a reflexão tomar uma forma positiva e muito agradável, até mesmo quando algumas lagrimas escapam dos olhos (ou para os machões lendo isso, quando insetos entram nos olhos). De alguma forma esse tipo de atividade permite que as pessoas enxerguem a si próprias de uma perspectiva distinta pois a mente não está pensando em um “loop” interno, mas também está ativa com coisas que a gente a gente nem da atenção (atos reflexos) como evitar os obstáculos do caminho (pedras, buracos, etc.), respiração, batimento cardíaco, fatiga muscular, etc. Aqui vai a sugestão: De uma volta no quarteirão caminhando hoje e pense a respeito disso. Depois de pensar tome a iniciativa! Não precisa ser uma peregrinação de 800 Km. Talvez uma escalada de montanha em um fim de semana já seja suficiente. Vai depender de quanto você tem para pensar… 🙂 É muito terapêutico.
Agora, de volta ao dia 5, e parece que este post não vai ser tão curto assim, afinal de contas… 🙂
Ao deixar Santo Domingo pedalei pela estrada, já familiar, N-120. Com exceção dos 4,5 Km em uma estradinha de terra paralela a estrada e que é usada pelos andarilhos, pedalei na N-120 até Burgos. Uns 3,5 Km depois de Santo Domingo, uma das pistas da N-120 vira estranhamente para a direita e se você continua pedalando adiante, como eu fiz, você acaba do lado errado da pista ou forçado a pegar a estradinha de terra paralela a estrada assim como eu. Se você não quer pedalar no mesmo caminho dos andarilhos, eu aconselharia a ficar na N-120 que também vai te economizar algo como 1 Km na jornada. Mesmo que você pegue a estrada de terra, ao chegar a um vilarejo chamado Grañon uns 4,5 Km adiante você tem como voltar para a N-120, sem muito problema.
Com relação ao resto do caminho para Burgos o vídeo “fala” por si. Eu realmente gostei dessa pedalada. Uma ótima estrada, plana e sem buraco algum e uma temperatura muito agradável. A estrada cruza campos verdes de trigo e outras plantações. O caminho é praticamente todo plano, com exceção da longa subida de 4 Km após Villafranca Montes de Oca. A inclinação de 6% pode ser desafiante por causa da distância, mas é perfeitamente gerenciável. Não precisei empurrar a bicicleta nenhuma vez. Ao chegar no topo você se encontra no ponto mais alto deste percurso a 1.155m acima do nível do mar. Havia um pouco de neblina no topo quando cheguei lá.
Burgos é a próxima grande cidade no Caminho. É a capital da província de Burgos e antiga capital da coroa de Castela. Cheguei em Burgos pouco antes da 1 da tarde e Fernando já estava lá esperando por mim. Fomos ao escritório de turismo carimbar nossas credenciais e depois nos sentamos ao ar livre para almoçar em um dos muitos restaurantes ao redor da Catedral. Gostaria de ter passado mais tempo nessa cidade que parece ser muito interessante. Eu não entrei na catedral, mas de fora ela é majestosa.
Além da Catedral, Burgos tem também uma interessante arquitetura Gótica assim como o arco de Santa Maria que era o antigo portão de entrada da cidade.
Depois de Burgos pedalamos juntos por mais 27 Km até Hornillos del Camino, onde paramos para pernoitar. Nós decidimos continuar pedalando pela estrada, mas demos uma volta bem grande. Se você não quiser ficar na estrada acredito que pode economizar pelo menos uns 10 Km da sua jornada se ao passar a cidade de Tardajos você virar à esquerda em direção ao vilarejo de Rabé de las Calzadas e daí pegar a trilha dos andarilhos para Hornillos del Camino. Não posso falar de experiência própria sobre o desafio que esta rota seria para ciclistas, mas pelo que ví no Google Maps não aparenta ser muito mal (parece ser em pequenas estradas de terra). Acho que valhe a pena pelo tempo e distância a economizar. Nós chegamos em Hornillos as 15 para 5 da tarde.
Em Hornillos nos hospedamos em um albergue recém reformado chamado “Meeting Point“. Ao chegarmos já havia bastante gente aproveitando o solzinho do final de tarde no jardim do albergue, tocando violão e cantando. O pernoite custou 8€ e também aproveitamos para usar a máquina de lavar para lavar algumas roupas (4€ com sabão incluído). A roupa secou rapidinho pois ainda teve algumas horas de sol depois das 5. O albergue é ótimo, mas o vilarejo, entretanto, parece não ter infraestrutura para receber tantos peregrinos. Conseguimos achar apenas 1 pequeno restaurante aberto onde havia uma fila imensa de gente esperando para jantar. Acabamos por comprar um sanduiche no único mercadinho que encontramos aberto no vilarejo e comemos na cozinha do albergue, junto com outros peregrinos com os quais tivemos a oportunidade de compartilhar vinho e experiências. Pessoas da Austrália, Coréia do Sul, Holandeses, Alemães e muitos outros. Foi ótimo!
Bom, é isso aí… acabou não sendo nada curto este post, né?
Pessoas que me conhecem sabem que sempre tive dificuldade de ser sucinto… Tanta coisa para escrever. Pelo menos eu espero que não tenha sido uma perda de tempo para aqueles que leram até aqui. Em breve post do dia 6 vai estar pronto também… provavelmente bem curtinho como esse… 🙂