Bem-vindo a mais um post sobre nossa peregrinação de bicicleta pelo Caminho de Santiago. Este artigo é especial pois cobre 2 dias da nossa peregrinação, o nono e décimo dia (bem, essencialmente não houve peregrinação no 10o. dia). No dia 2 de junho de 2015 completamos a rota de 39.5 Km de Astorga para o vilarejo de El Acebo de San Miguel em 4h e 30m, dos quais 3h 21m foram em movimento. No dia seguinte, 3 de junho, resolvemos fazer uma pausa na peregrinação. Acordamos tarde e permanecemos praticamente o dia todo no Albergue com apenas uma pequena caminhada pelo vilarejo para almoço.
Dia 9: De Astorga para El Acebo de San Miguel.
Fui o último a deixar o albergue em Astorga nesse dia, nenhuma surpresa. Fernando já havia deixado a mais de 1 hora e eu sai uns 15 minutos depois do Marcelo e da Alice. Simplesmente levei mais tempo para arrumar as coisas na bike, mas e daí? Eu não estava com pressa.
Eu acho que a rota de Astorga a El Acebo foi uma das mais bonitas do Caminho. Foi meio desafiante em alguns trechos, uma vez que depois de Rabanal del Camino existe uma longa subida de 8 Km de extensão com uma altimetria de 500m (de 1000m em Rabanal até mais ou menos 1500m pouco antes da Cruz de Ferro), mas eu estou me adiantando novamente.
Logo após sair de Astorga na rodovia LE-142 passei por uma capela chamada “Ermita del Ecce Homo” (Capela de Jesus Cristo), uma casa do século 17 onde peregrinos podem descansar e encher suas garrafas de água.
Depois de Murias de Rechivaldo, deixei a rodovia para pegar um caminho de terra, o mesmo usado pelos peregrinos que andam a pé. O transito de peregrinos nesse trecho estava intenso o que me forçou a ir devagar, mas não precisei permanecer no caminho de terra por muito tempo. Depois de 3 Km encontrei com a rodovia vicinal LE-6304 e continuei no asfalto até a vila de Santa Catalina de Somoza.
Este trecho de terra foi provavelmente o maior de todos o dia (mais alguns outros que de tão pouca extensão não vale nem a pena mencionar). Depois de Santa Catalina de Somoza cruzei através do vilarejo de “El Ganso” seguindo na LE-6304 rumo a Rabanal del Camino, onde encontrei com Fernando e parei para beber e comer algo.
Poucos minutos depois chegaram o Marcelo e a Alice também e permanecemos ali mais algum tempo descansando e conversando. Foi nesse tempo que uma “figura” do Caminho passou por nós a pé. Eu não quem esse peregrino era e acredito que ele não caminhou o percurso todo até Santiago, pois o encontramos em outras ocasiões ao longo do Caminho e até mesmo ao chegarmos em Santiago, mas nas porções que ele caminhou ele o fez vestido como soldado templário e carregando uma grande bandeira nas costas. Isso deve explicar porque eu o chamei de “figura” do caminho antes.
Depois de Rabanal a longa subida, como mencionado, foi gratificada pela maravilhosa vista das montanhas e pelas multicoloridas flores e vegetação silvestres na beira da estrada. A subida é longa, mas não é muito inclinada, com exceção de um pequeno trecho uns 500m passando de Foncebadón, onde a inclinação aumenta para talvez algo em torno de 15%. Eu e Fernando tivemos que empurrar as bicicletas neste trecho, mas ele não é muito longo.
Depois de Foncebadón chegou a outro marco do Caminho de Santiago, a Cruz de Ferro. É um monumento que consiste de um poste de madeira de aprox. 10m com uma cruz de ferro no topo. Na sua base existe um monte de pedras que foi formado pelas pedras trazidas pelos peregrinos e lá deixadas ao longo dos anos. Diz a lenda que quando a catedral de Santiago estava sendo construída, os peregrinos eram solicitados a trazem uma pedra para contribuir na sua construção.
A tradição agora é trazer uma pedra da região de origem do peregrino e deixa-la lá, simbolizando as coisas que o peregrino quer deixar para trás na vida e o ato de nascer de novo ao longo do resto do percurso até Santiago.
Eu não trouxe nenhuma pedra comigo, mas acredito que deixei algo lá e ganhei a satisfação de ter alcançado esse local com as forças de minhas próprias pernas. Fernando e eu chegamos lá juntos e alguns minutos depois reuniram-se a nós o Marcelo e a Alice também.
Ficamos todos ali por um bom tempo, descansando, conversando e observando a chegada dos outros peregrinos ao local.
Depois da Cruz de Ferro o caminho foi de uma longa e prazerosa descida até El Accebo com vistas magnificas das montanhas ao longo do caminho.
Fernando e eu acabamos nos separando de Marcelo e Alice que pararam em Manjarin, provavelmente atraídos pela bandeira Brasileira e pelas muitas placas e sinais que ali estavam.
Ao chegarmos em El Acebo eu vi um cartaz anunciando um albergue que havia sido recentemente construído e as fotos no cartaz eram muito convidativas. Decidimos ir dar uma olhada no Albergue e ao chegarmos lá quase não acreditamos nos nossos olhos. Se existe algo como um albergue de peregrinos de 5 estrelas, com certeza este se qualifica, mas vou deixar as explicações para o texto sobre o dia 10.
O vídeo abaixo em uma compilação do trecho da subida até a Cruz de Ferro.
Video da vista a partir da Cruz de Ferro e testemunho do Fernando.
Dia 10: Sem pedal, só descansando na “La Casa del Peregrino“, um recém construído Albergue de “5 estrelas” no Caminho.
Bem, dadas as excelentes instalações desse albergue e o preço decidimos nos presentear com um dia sem peregrinação depois dos 520 Km que já havíamos percorrido até aquele ponto.
Nós sabíamos que podíamos nos dar esse presente tanto do ponto de vista financeiro quanto de tempo, pois ainda tínhamos 11 dias de férias pela frente e apenas mais 300 Km para percorrer até Santiago.
Até aquele ponto nos havíamos nos hospedado em Albergues de Peregrinos bem simples com pernoite custando entre 5 € a 22 € (o primeiro albergue em Saint Jean). A grande maioria custou entre 8€ a 10 €.
Neste albergue o pernoite também era 10 €, mas o custo benefício dele foi muito superior. Não deixou de ser um Albergue, no sentido de que os quartos eram coletivos com vários beliches em cada um deles, mas até isso foi especial.
Por 10 € você recebe em troca uma cama com sua luz individual e 2 tomadas de energia apenas para você (um luxo de comparado aos antigo Albergues que havíamos nos hospedado antes) assim como seu próprio armário (a recepção fornece a chave do armário).
Wi-Fi também está disponível e parece que cobre todo o Albergue (bom pelo menos nos lugares que tentei acessar, como no nosso quarto e nas áreas comuns, mas não na piscina).
Você também ganha as fantásticas vista do Albergue, serviço de lavanderia (a um custo de 4 € por máquina – existem também tanques de lavar roupa fora com grandes varais para secar), um pequeno supermercado na parte de baixo, playground infantil, uma grande churrasqueira, muitas áreas para sentar do lado e fora e apreciar a vista, assim como um bar, recepção permanente e, acredite se quiser, uma piscina “olímpica” com uma agua cristalina, mas muito fria, proveniente diretamente das montanhas.
As toaletes, banheiros, duchas estavam impecavelmente limpos, eram modernos e com uma ótima pressão de água quente. Tudo controlado eletronicamente, desde o fluxo de água até os sensores de presença e as chaves de luz sensíveis ao toque (é meu lado “geek” tomando conta agora).
O quarto em que pernoitamos tinha 4 beliches (8 camas), mas na primeira noite não precisamos dividir o quarto com ninguém. Na 2a. noite dividimos o quarto com mais 4 peregrinos.
Sem querer diminuir os albergues que havíamos pernoitado nas noites anteriores ao longo do Caminho, foi muito bom ficar em um local onde tudo era novinho e com todos os benefícios do século 21 a nossa disposição.
Quanto a comida… Assim como em outros locais, o menu do peregrino do Albergue oferecia 3 opções de refeição incluindo entrada, prato principal e sobremesa, tudo acompanhado por Pão, água e vinho. Acho que vou deixar as fotos falarem por si e simplesmente dizer que estava tudo delicioso. Por 10 € a qualidade desta refeição é provavelmente imbatível em qualquer lugar do mundo.
Neste dia sem pedalar acordamos tarde e subimos até o topo da vila caminhando (o Albergue se situa uns 200 m depois do vilarejo), rua abaixo.
O vilarejo de El Acebo de San Miguel é bem pequeno, com apenas poucas casas ao longo da rua principal.
As casas são muito antigas com algumas poucas parecendo estar em péssimo estado de conservação (simplesmente uma pilha de pedras, na verdade). Caminhamos até ao topo do vilarejo, junto a fonte de água, e almoçamos em um local chamado “La Tienda”, que também oferece quartos a peregrinos. Como muitos outros vilarejos ao longo do Caminho de Santiago, El Acebo é extremamente dependente do turismo gerado pelos peregrinos e provavelmente durante o período de alta estação o número de peregrinos que permanece ali é muito superior ao número de habitantes.
Bem, aqui se encerra o relato do 9o. e 10o. dias da nossa peregrinação. Por favor compartilhe a página no Facebook, Twitter, etc e deixe comentários e perguntas ou pelo menos indique se você gostou ou não ao clicar nas estrelas abaixo (depois das fotos).
<< Dia Anterior Próximo dia >>