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Caminho de Santiago, Dia 7: De Calzadilla de la Cueza para León

Municipal Hostel in Calzadilla de la Cueza
Albergue Municipal de Calzadilla de la Cueza

Bem-vindo ao post sobre o sétimo dia da minha peregrinação de bicicleta pelo caminho de Santiago no dia 31 de maio de 2015. Completei esta etapa de 81 Km do pequeno vilarejo de Calzadilla de la Cueza para a cidade de León em 6h e 24m, dos quais 5h 16m foram em movimento.

Deixei o albergue as 8 da manhã como de costume. Os primeiros 18 Km na estrada N-120 foram sem maiores acontecimentos. Passei por outros vilarejos como Ledigos, Terradillos de los Templarios, San Nicolas del Real Camino em uma boa cadência.

About 2 Km from Sahagún. Immediately after crossing the river Valderaduey.
Na N-120, a cerca de 2 Km de Sahagún. Imediatamente após cruzar o rio Valderaduey.

Ao me aproximar de Sahagún, entretanto, imediatamente após cruzar o rio Valderaduey, eu vi uma das típicas setas amarelas que guiam os andarilhos e decidi segui-las, saindo da estrada.

Stone bridge leading to the Ermita de la Virgen del Puente. Can you see the clear yellow signs?
Ponte de pedra que da acesso a Ermita de la Virgen del Puente. As setas amarelas indicando o sentido em direção a capela são bem claras, mas por alguma razão eu as ignorei.

Poucos metros depois cheguei a um local onde havia uma pequena ponte levando a uma igrejinha chamada “Ermita de la Virgen del Puente” e neste ponto havia novamente uma seta amarela apontando em direção a igreja.

Eu não entendo até hoje o que me levou a ignorar a seta e seguir adiante. Este erro me custou um atraso de pelo menos 35 minutos e 7.28 Km pedalados para chegar a Sahagún ao invés de 2 Km se eu tivesse me mantido na estrada N-120.

A mistake with a nice view.
Um erro com uma bela vista. Campos de papoulas vermelhas.

É a prova que até mesmo durante uma peregrinação, se você deixar seu pensamento solto e não prestar atenção no que estava fazendo você vai pagar pelo erro com o suor do seu corpo.

Felizmente não existe erro que não possa ser corrigido e ao chegar a uma pequena estrada, a LE-6707, notei que estava errado e peguei a estrada para retornar a Sahagún. No ponto que a LE-6707 cruzava com a N-120 não havia nenhum ponto de entrada e por isso tive que adentrar a cidade para daí deixa-la de volta a N-120.

Esse não foi nem de perto o maior erro que cometi, mas isso é assunto para um Post futuro. Mesmo assim fiquei bem chateado com o erro.

Dessa forma fica aqui o alerta de que se você estiver baixando meus arquivos GPX com intenção de usa-los na sua peregrinação, lembre-se que ao cruzar o rio Valderaduey simplesmente continue pedalando na N-120 (se você estiver a pé aconselho seguir as setas amarelas para evitar as estradas).

Via Trajana. Pilgrim's resting place amongst the trees to the right.
Via Trajana. Havia um local de descanço para peregrinos entre as árvores a direita.

Cerca de 5 Km depois que eu retomei a N-120 eu a deixei na direção de Calzada del Coto. No final do vilarejo eu tomei uma pequena estrada de terra que o Google Maps identifica como Via Trajana. Neste ponto não existem boas alternativas por estradas, pois a N-120 segue em direção ao sul (León é ao norte) e é proibido o trafego de bicicletas e pedestres na autoestrada (a autoestrada A-231 corre em paralelo a via trajana, alguns quilômetros ao sul).

Aproximadamente 9 Km depois, por volta das 11 da manhã, cheguei ao vilarejo de Calzadilla de los Hermanillos a parei para tomar um café da manhã tarde ou um almoço adiantado, conforme preferir chamar.

After Calzadilla de los Hermanillos in the direction to Reliegos.
Após Calzadilla de los Hermanillos em direção à Reliegos.

Depois de Calzadilla de los Hermanillos pedalei por mais 4 Km em asfalto (o asfalto não estava em boas condições) até ao cruzamento com a LE-6620 onde voltei a tomar uma estrada de terra por mais 14 Km até o vilarejo de Reliegos.

Dirt road littered with stones.
Estrada de terra cheia de pedras.

Esses 14 Km foram meio chatos por causa do sol forte e das pedras no caminho que causavam muita vibração na bike e me faziam trocas de trilha de pneu com muita frequência na procura de um caminho com menos pedras. Foi em um desses momentos que eu parei por uns instantes pensando como essas trilhas são uma analogia as nossas vidas e decidi naquele momento capturar esses pensamentos em voz. A intenção era compartilhar os pensamentos em palavras escritas mais tarde, mas acabei decidindo por me expor e compartilhar a gravação original com vocês. Espero que não fiquem com a impressão que sou um tolo ao fazer isso. Houveram muitos momentos nessa peregrinação em que me emocionei e esta foi apenas um deles. A gravação, entretanto, está em Inglês.

Wild Poppies on the streets of Reliegos.
Papoulas nativas nas ruas de Reliegos.

Depois de Reliegos os 24 Km restantes até León foram em bom asfalto na LE-6615 e plano praticamente o percurso inteiro. Mesmo assim levei pouco mais de 2h para chegar a León pois estava me sentido cansado com a constante vibração causada pelas pedras e o sol forte.

Em León me hospedei no Albergue del Monasterio de las Benedictinas (Carbajalas) que custa 5€ por pernoite. O albergue é mantido por voluntários e você precisa ter sua credencial de peregrino para poder se hospedar. Ele é essencialmente uma grande sala dividida por paredes finas de plástico em espaços de 6 beliches cada.

Pilgrims's resting place near Mansilla de las Mulas
Local de descanço para peregrinos próxima a Mansilla de las Mulas

O albergue tem 132 camas (ou 66 beliches) e o número de banheiros não pareceu ser suficiente. Em termos de higiene também deixou um pouco a desejar, mas foi aceitável.

Se você espera encontrar uma tomada para recarregar seus aparelhos eletrônicos, boa sorte. Não encontrei nenhuma próxima a minha cama e o lugar de alguma maneira não me inspirou confiança para deixar meus aparelhos longe. Existe WiFi na área da recepção do lado de fora, mas não há recepção dentro do quarto. Também não existem armários onde deixar seus pertences e tudo fica acumulado ao longo do corredor. Acredito que é possível que alguém pegue seus pertences por engano naquela confusão, mas felizmente não tive nenhum problema.

Arrival in León
Chegada em León.

Eu jantei no restaurante da hospedaria que abre somente depois das 7 da noite. O menu do peregrino custou 9€ e a comida estava razoável (nada excepcional, entretanto).

Antes do jantar eu sai para caminhar pela cidade por 2 horas.

Pilgrims' Menu
Menu do Peregrino.

León é incrível. Eu me senti muito bem lá. Possui uma arquitetura gótica muito interessante e muitas flores pela cidade. Eu não entrei na catedral por acreditar que eu não estava vestido de maneira adequada e eu não queria desrespeitar os fiéis locais que estavam entrando na igreja para assistir à missa que ia começar. Do lado de fora, entretanto, a igreja é muito impressionante.

Eu vou adicionar, ao final deste post, algumas fotos da minha caminhada por León. O próximo vídeo é na praça da catedral ao tocar dos sinos que chamava os fiéis para a missa.

Bem, assim encero meu post sobre o dia 7 da minha peregrinação. Por favor deixe comentários, perguntas ou pelo menos indique se você gostou ou não ao clicar nas estrelas abaixo (depois das fotos). Às vezes fico pensando se não estou perdendo meu tempo ao produzir estes vídeos e escrever sobre minha peregrinação, mas aí observo que independente deles serem uteis para outras pessoas eles são úteis para mim próprio. É uma maneira que tenho de viajar de volta ao tempo e reviver esses incríveis momentos no caminho.

Fotos de León

Old city wallsAntigas muralhas da cidade

Plaza Sta Maria del Camino.Plaza Sta Maria del Camino.

Where to?Para onde?

Plaza San MarceloPlaza San Marcelo

Plaza San Marcelo Plaza San Marcelo

3D map of LeónMapa 3D de León

The Botines Building. Designed by Gaudi.A Casa Botines. Projetada pelo architeto Gaudi.

Before e-Bikes there were petrol head bikes.Antes da e-Bikes existiam as de petroleo.

León's impressive CathedralImpressionante Catedral de León.

10 to 610 para as 6

Right side of the CathedralVista lateral direita da Catedral

Basilica de San IsidoroBasilica de San Isidoro

Water Fountain at the Plaza de Santo DomingoChafariz na Plaza de Santo Domingo

CuteLindas

Wonder how they taste Como será o gosto…

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Caminho de Santiago, Dia 6: De Hornillos del Camino para Calzadilla de la Cueza

Hornillos Meeting Point Hostel
Albergue Hornillos Meeting Point

Bem-vindo ao quinto post sobre o sexto dia da minha peregrinação de bicicleta pelo caminho de Santiago no dia 30 de maio de 2015. Completei esta etapa de 70.29 Km de Hornillos del Camino para o pequeno vilarejo de Calzadilla de la Cueza em 6h e 29m, dos quais 4h 41m foram em movimento.

Antes de dar início precisa esclarecer algumas coisas:

  1. A distância pedalada foi provavelmente uns 5 a 10 Km mais que a distância medida pelo Garmin. Isto ocorreu porque uns 4 Km depois de Castrojeriz eu parei no topo de uma montanha para descansar e tirar algumas fotos e desliguei o GPS me esquecendo de dar ligar ele novamente ao deixar o local. Só me dei conta que ele estava desligado quando cheguei em Fromista.
  2. Eu pedalei sozinho nesse dia, pois Fernando decidiu sair cedo e pedalou mais que eu nesse dia.

Com estes esclarecimentos, o post termina aqui. Obrigado pela sua visita…

Brincadeirinha… 🙂

Eu adicionei ao vídeo desse dia um clipe pequeno que gravei momentos antes de deixar o albergue em Hornillos. Céu completamente azul, sem uma nuvem sequer. Um dia lindo.

Eu acho que 60% da distância pedalada nesse dia foram em estradinhas de terra e trilhas de andarilhos. O pedal fica mais lento, mas a beleza da paisagem compensa. Qualquer tentativa de descrever a beleza do percurso em palavras será um pobre substituto para as imagens no vídeo, portanto espero que gostes do vídeo e fique à vontade para entrar em contato em caso de perguntas.

El Puntido
El Puntido

A primeira parada depois de sair de Hornillos foi em um pequeno vilarejo chamado Hontanas. Parei em um estabelecimento o qual eu já havia visto fotos antes mesmo de sair da Inglaterra, o El Puntido. Um café, restaurante e albergue. Comi apenas um sanduiche de ovos e tomei um café. Hontanas é bem pequena, mas tem um certo charme, como muitos outros pequenos vilarejos espanhóis ao longo do caminho e é muito dependente da economia gerada pelos peregrinos. Muito provavelmente mais peregrinos cruzam pelo vilarejo por dia do que ele tem em habitantes.

Com café da manhã tomado segui adiante na direção de Castrojeriz, mas antes de chegar lá cruzei com outro marco do Caminho: As ruinas do Mosteiro de San Anton.

Ruins of the Monastery of Saint Anthony
Ruinas do Mosteiro de San Anton.

Assim como muitos outros marcos arquitetônicos ao longo do Caminho, o mosteiro também serviu em tempos passados como um hospital de peregrinos. Também foi um dos palácios do Rei Pedro I até o Desamortização eclesiástica de Mendizabal que obrigou os clérigos a abandonarem o mosteiro que com o passar do tempo ficou em ruinas.

Castrojeriz on the background
Castrojeriz ao fundo.

Castrojeriz é uma cidade que eu gostaria de ter tido um pouco mais tempo para explorar. Eu acredito que uma caminhada até as ruinas do castelo de Castrojeriz no topo da colina seria muito interessante. A paisagem a partir da pequena praça na frente da igreja matriz também é muito bonita e oferece uma vista do vale abaixo.

Mountain (or hill?) after Castrojeriz (far off in the background). THis was 1/2 way up.
Montanha (ou morro) depois de passar Castrojeriz (ao longe no fundo). Esta foto foi tomada na metado de caminho para cima.

Depois de Castrojeriz tive que subir uma montanha por uns 3 ou 4 Km a um nível de ascensão de 12%. Puxei a bike na maioria dessa distância. Eu acho que seria possível pedalar, mesmo com uma bike carregada como a minha, mas a estradinha de terra é cheia de pedrinhas e areia o que provem pouca tração no pneu nesse grau de ascensão. Levei um tempo para chegar lá em cima.

Top of the Mountain (or hill?) after Castrojeriz, 1050 m.
Topo da montanha (ou morro) após Castrojeriz, 1050 m.

A 1050m acima do nível do mar este foi o ponto mais alto deste dia. Se você acompanhou meus posts anteriores você saberá que este não foi o ponto mais alto, mas esta montanha é particularmente difícil por causa das condições da estrada.

Yeah... I´ve made it!
Eu tenho a forte…

Sem querer desincentivar, este também não é nem de perto o mais difícil do Caminho, mas isso é um tópico para posts futuros (provavelmente o post do dia 12 quando tive que cruzar com o tenebroso “El Cebreiro”). Ao chegar ao cume parei para descansar e tirar fotos. A descida é ainda mais inclinada (tens que ter bons freios), mas a vantagem é que é toda pavimentada (cimento).

San Nicolas de Puente Fitero, pilgrims' hospital (is in fact a hostel)
San Nicolas de Puente Fitero, hospital de peregrinos (de fato um albergue hoje in dia).

Alguns quilômetros depois passei pelo hospital de peregrinos de San Nicolás de Puente Fitero e tive que parar por uns instantes para tirar fotos e pensar no meu filho mais novo que também se chama Nicolas. Poucos metros depois do hospital já me encontrava na província de Palencia depois de cruzar o rio Pisuerga sobre a ponte Itero del Castillo, construída no século 11.

Canal of Castile
Canal de Castela

Continuei pedalando na direção de Boadilla del Camino e pouco depois de passar por Boadilla passei a pedalar ao longo do canal de Castela por uns 3 ou 4 quilômetros até chegar as eclusas de Fromista. Muito lindo esse trecho do pedal de Boadilla a Fromista.

Frómista
Frómista

O sol estava forte e o dia quente por isso parei em Frómista por aprox. 1 hora para comer uma pizza (que não estava muito apetitosa infelizmente) e descansar um pouco.

De Frómista segui para Carrion de los Condes na estrada P-980 passando por vários pequenos vilarejos no caminho.

Carrion de los Condes
Carrion de los Condes

Carrion de los Condes também é uma dessas pequenas cidades que eu gostaria de ter tido mais tempo para explorar, mas eu decidi continuar pedalando. Parei apenas para tirar algumas fotos e perguntar sobre a direção.

DSC00465
Ninho de cegonhas em Carrion de los Condes

Depois de 4 ou 5 Km em uma pequena estradinha asfaltada, a PP-2411, eu pedalei uns 12 Km em estrada de terra até chegar em Calzadilla de la Cueza.

Eu tinha a intenção de pedalar até Ledigos nesse dia pois foi lá que o Fernando havia me falado que provavelmente pararia para dormir, mas quando cheguei em Calzadilla vi o pintado na parede de um albergue que ele tinha piscina. Por 5€ em um dia quente como aquele, o que mais você pode querer? O problema é que o prédio eram 2 albergues um “colado” no outro:

Municipal Hostel in Calzadilla de la Cueza
Albergue Municipal em Calzadilla de la Cueza

O albergue municipal (sem piscina) e o albergue Camino Real (com piscina) ambos 5€ por pernoite. Por azar acabei ficando no municipal, mas que apesar de não ter piscina era muito bom também e recém renovado. Tinha uma excelente ducha quente e me deu a oportunidade de lavar algumas peças de roupa e a bike que estava imunda de toda a poeira das estradas e trilhas de terra desse dia.

Jantei no restaurante Camino Real alguns metros do albergue e encontrei com Cristina e Pete da Holanda. Começamos a conversar e acabamos por compartilhar a mesma mesa durante a janta. Enquanto jantávamos, uniu-se a nós o Michael de Devon na Inglaterra. O Michael já era um veterano do Caminho de Santiago, tendo feito ele a pé várias vezes. Ele disse que enquanto tivesse forças iria fazer a peregrinação todos os anos pois era aposentado e tinha muito tempo de sobra na vida. No ano anterior ele havia feito o caminho a pé em 29 dias, mas este ano ele deu a si próprio 39 dias para completar a caminhada.

I know that feeling...
Sei como ele se sente…

Eu gostaria de ter pego os dados de contato deles e de outras pessoas que encontrei ao longo do caminho, mas infelizmente não o fiz. Espero que estejam bem e que tenham tido um “Boun Camino”.

Isso completa o post do meu sexto dia no Caminho. Se você estiver acompanhando, você tem meu compromisso que vou terminar todos os 14 posts que me propus a escrever, mas pode levar um tempo.

Obrigado pela sua atenção.

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Caminho de Santiago, Dia 5: De Santo Domingo de la Calzada para Hornillos del Camino

View of Santo Domingo´s Cathedral
Imagem da Catedral de Santo Domingo de la Calzada

Olá mais uma vez e bem-vindo ao quinto post sobre o quinto dia da minha peregrinação de bicicleta pelo caminho de Santiago no dia 29 de maio de 2015. Completamos esta etapa de 97.26 Km de Santo Domingo de la Calzada para Hornillos del Camino em 7h e 36m, dos quais 5h 38m foram em movimento.

Este “post” provavelmente vai ser mais curto que os anteriores, não porque tenho menos a escrever, mas porque tem sido difícil encontrar tempo para produzir estes posts e vídeos e também porque pedalamos mais nesse dia que nos anteriores e assim paramos menos vezes para fotos, etc. Por favor, entre em contato se você tiver alguma pregunta que não for respondida aqui.

Eu deixei o albergue em Santo Domingo as 8 horas da manhã, como de costume, mas Fernando decidiu sair 1h antes e por isso pedalamos os primeiros 70 Km até Burgos cada um por si. Nos encontramos em Burgos mais tarde para almoçarmos juntos.

Post Card I posted from Villafranca Montes de Oca to my "2nd Mum".
Cartão Postal que enviei de Villafranca Montes de Oca para minha “2a. Mãe”.

O “Caminho” não é só a rota a ser feita, mas também um tempo para se refletir sobre a vida e esse tipo de reflexão é melhor feita sozinho. No tópico “reflexões” uma coisa interessante que reparei durante a peregrinação é que os peregrinos, mesmo quando andando em pares ou acompanhados tendem a estarem bastante mergulhados em seus próprios pensamentos e com frequência caminham em total silencio. É claro que também tem muita risada e alegria, mas para muitos a peregrinação tem um sentido espiritual e provem a eles um tempo para pensar na vida até aquele ponto. É por essa causa que muitos peregrinos mudam seus estilos de vida após a peregrinação, não por causa do caminho em si. Eu honestamente acredito que isso algo que todos nós deveríamos fazer com uma certa frequência (uma vez a cada 2 ou 3 anos, talvez). Dar-nos tempo para refletir sobre nossas vidas, mas não para ficarmos sentados no sofá da sala sentindo pena de nós mesmos. Enquanto se caminhar ou se pedala o pensamento toma uma forma interessante e produz um maravilhoso efeito de claridade. Algo a ver, provavelmente, com o fato de que você não está apenas mentalmente, mas também fisicamente ativo, e que faz a reflexão tomar uma forma positiva e muito agradável, até mesmo quando algumas lagrimas escapam dos olhos (ou para os machões lendo isso, quando insetos entram nos olhos). De alguma forma esse tipo de atividade permite que as pessoas enxerguem a si próprias de uma perspectiva distinta pois a mente não está pensando em um “loop” interno, mas também está ativa com coisas que a gente a gente nem da atenção (atos reflexos) como evitar os obstáculos do caminho (pedras, buracos, etc.), respiração, batimento cardíaco, fatiga muscular, etc. Aqui vai a sugestão: De uma volta no quarteirão caminhando hoje e pense a respeito disso. Depois de pensar tome a iniciativa! Não precisa ser uma peregrinação de 800 Km. Talvez uma escalada de montanha em um fim de semana já seja suficiente. Vai depender de quanto você tem para pensar… 🙂 É muito terapêutico.

Agora, de volta ao dia 5, e parece que este post não vai ser tão curto assim, afinal de contas… 🙂

Red delight. Wild Poppies on the right.
Delicias vermelhas de se ver. Papoulas selvagens a beira da estrada.

Ao deixar Santo Domingo pedalei pela estrada, já familiar, N-120. Com exceção dos 4,5 Km em uma estradinha de terra paralela a estrada e que é usada pelos andarilhos, pedalei na N-120 até Burgos. Uns 3,5 Km depois de Santo Domingo, uma das pistas da N-120 vira estranhamente para a direita e se você continua pedalando adiante, como eu fiz, você acaba do lado errado da pista ou forçado a pegar a estradinha de terra paralela a estrada assim como eu. Se você não quer pedalar no mesmo caminho dos andarilhos, eu aconselharia a ficar na N-120 que também vai te economizar algo como 1 Km na jornada. Mesmo que você pegue a estrada de terra, ao chegar a um vilarejo chamado Grañon uns 4,5 Km adiante você tem como voltar para a N-120, sem muito problema.

Water Fountain at the entrance to Burgos
Chafariz na entrada de Burgos

Com relação ao resto do caminho para Burgos o vídeo “fala” por si. Eu realmente gostei dessa pedalada. Uma ótima estrada, plana e sem buraco algum e uma temperatura muito agradável. A estrada cruza campos verdes de trigo e outras plantações. O caminho é praticamente todo plano, com exceção da longa subida de 4 Km após Villafranca Montes de Oca. A inclinação de 6% pode ser desafiante por causa da distância, mas é perfeitamente gerenciável. Não precisei empurrar a bicicleta nenhuma vez. Ao chegar no topo você se encontra no ponto mais alto deste percurso a 1.155m acima do nível do mar. Havia um pouco de neblina no topo quando cheguei lá.

Pedestrian zone in Burgos
Calçadão de Pedestres no centro de Burgos

Burgos é a próxima grande cidade no Caminho. É a capital da província de Burgos e antiga capital da coroa de Castela. Cheguei em Burgos pouco antes da 1 da tarde e Fernando já estava lá esperando por mim. Fomos ao escritório de turismo carimbar nossas credenciais e depois nos sentamos ao ar livre para almoçar em um dos muitos restaurantes ao redor da Catedral. Gostaria de ter passado mais tempo nessa cidade que parece ser muito interessante. Eu não entrei na catedral, mas de fora ela é majestosa.

Burgos impressive Cathedral
A impressionante Catedral de Burgos.

Além da Catedral, Burgos tem também uma interessante arquitetura Gótica assim como o arco de Santa Maria que era o antigo portão de entrada da cidade.

Gateway arch of Santa María
Arcos de Santa María

Depois de Burgos pedalamos juntos por mais 27 Km até Hornillos del Camino, onde paramos para pernoitar. Nós decidimos continuar pedalando pela estrada, mas demos uma volta bem grande. Se você não quiser ficar na estrada acredito que pode economizar pelo menos uns 10 Km da sua jornada se ao passar a cidade de Tardajos você virar à esquerda em direção ao vilarejo de Rabé de las Calzadas e daí pegar a trilha dos andarilhos para Hornillos del Camino. Não posso falar de experiência própria sobre o desafio que esta rota seria para ciclistas, mas pelo que ví no Google Maps não aparenta ser muito mal (parece ser em pequenas estradas de terra). Acho que valhe a pena pelo tempo e distância a economizar. Nós chegamos em Hornillos as 15 para 5 da tarde.

Hornillos Meeting Point Hostel
Albergue Meeting Point em Honrillos del Camino.

Em Hornillos nos hospedamos em um albergue recém reformado chamado “Meeting Point“. Ao chegarmos já havia bastante gente aproveitando o solzinho do final de tarde no jardim do albergue, tocando violão e cantando. O pernoite custou 8€ e também aproveitamos para usar a máquina de lavar para lavar algumas roupas (4€ com sabão incluído). A roupa secou rapidinho pois ainda teve algumas horas de sol depois das 5. O albergue é ótimo, mas o vilarejo, entretanto, parece não ter infraestrutura para receber tantos peregrinos. Conseguimos achar apenas 1 pequeno restaurante aberto onde havia uma fila imensa de gente esperando para jantar. Acabamos por comprar um sanduiche no único mercadinho que encontramos aberto no vilarejo e comemos na cozinha do albergue, junto com outros peregrinos com os quais tivemos a oportunidade de compartilhar vinho e experiências. Pessoas da Austrália, Coréia do Sul, Holandeses, Alemães e muitos outros. Foi ótimo!

Bom, é isso aí… acabou não sendo nada curto este post, né?

Pessoas que me conhecem sabem que sempre tive dificuldade de ser sucinto… Tanta coisa para escrever. Pelo menos eu espero que não tenha sido uma perda de tempo para aqueles que leram até aqui. Em breve post do dia 6 vai estar pronto também… provavelmente bem curtinho como esse… 🙂

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Caminho de Santiago: Dia 4 - De Viana para Santo Domingo de la Calzada

Church in Viana
Igreja Matriz em Viana

Demorou, mas saiu. Este post é sobre o 4o. dia da nossa peregrinação de bicicleta pelo caminho de Santiago que aconteceu no dia 28 de maio de 2015. Completamos esta etapa de 64.24 Km de Viana a Santo Domingo de la Calzada em 8h e 19m, dos quais 4h 54m foram em movimento.

Deixamos o Albergue pouco antes das 8 da manhã e estava um lindo dia de sol.

Entrance to the Albergue (hostel)
Entrada para o Albergue (Viana)

Assim como em dias anteriores não sabíamos ao certo onde iriamos parar neste dia. Estávamos tentando ma nter uma média de 60 Km por dia ou, se isso não fosse possível, parar por volta das 5 da tarde de forma a encontrar um albergue cedo suficiente com camas para escolher, tomar banho e sair para jantar mais cedo.

Stork´s Nest in the outskirts of Logroño.
Ninho de Cegonhas em Logroño

Estávamos perto de Logroño, a próxima grande cidade no Caminho. Os 5 Km iniciais foram na NA-111, com outros 3 Km pedalados em uma ótima ciclovia com um asfalto plano e largo (a “rua” vermelha que você pode ver no vídeo).

Logroño´s Cathedral
Catedral de Logroño

Ao chegarmos em Logroño, nós cruzamos a ponto sobre o rio Ebro para chegar ao centro da cidade e paramos rapidamente em um albergue que encontramos no caminho para pedir direções e carimbar nossas credenciais de peregrino. Depois disso procuramos por um lugar para tomar café da manhã e encontramos este ótimo e hospitaleiro café debaixo dos arcos da Calle Portales, chamado Calenda.

Breakfast at Calenda
Café da Manhã no Calenda

Enquanto estávamos esperando nosso café da manhã ser servido entramos em contato com a Paula através do Facebook Messenger, que, ao contrário de nós, havia pedalado até Logroño no dia anterior. Ela estava perto de onde estávamos. Foi um prazer revê-la e ter sua companhia durante nosso café da manhã. Depois do delicioso café, nós 3 caminhamos um pouco, empurrando as bicicletas, até ao escritório de turismo da cidade onde carimbamos mais uma vez nossas credenciais de peregrino. Na frente do escritório de turismo havia uma pequena feira de artesanato com música e muitos jovens.

Marcelino´s Hermitage
Eremita do Peregrino Passante, Marcelino.

De volta as nossas bicicletas, cruzamos Logroño pedalando juntos por outros 8 ou 9 Km até chegar ao eremitério do Marcelino (Ermita del Peregrino Pasante – Eremita do Peregrino Passante).  Cara muito legal o Marcelino. Eu recomendaria que se passarem por lá comprassem alguma recordação ou suvenir para ajudá-lo a manter o local.

Marcelino and me
Marcelino e eu

A pedalada até ao eremitério do Marcelino foi muito bonita, em parte em uma ciclovia compartilhada com pedestres e corredores que, devido ao grande número, exige cuidado ao se pedalar. A próxima parada foi na pequena cidade de Navarrete e para chegar lá pegamos uma mistura de estrada asfaltada, estrada de terra e trilhas. Em alguns lugares tivemos que puxar nossas bicicletas pois não havia condições de prosseguir pedalando. Em Navarrete paramos para descansar, tomar agua e comer algo. De Navarrete continuamos na NA-120 por outros 5 ou 6 Km onde pegamos uma estradinha de terra paralela a autoestrada A-12 por uns 2 ou 3 Km e daí dobramos a direita em direção a Ventosa. Depois de Ventosa tivemos que enfrentar umas trilhas de terra meio difíceis também. O engraçado é que esta trilha de terra nos levou de volta a estradinha de terra que estávamos pedalando ao longo da autoestrada A-12. Descobrimos que se tivéssemos continuado nesta estradinha de terra teríamos economizado uma boa distância e talvez não tivéssemos precisa empurrar as bikes. Neste dia pedalamos a maioria do tempo pelo mesmo caminho que os peregrinos a pé fazem, o que tem um certo apelo, mas em retrospecto, se tivéssemos ficado na NA-120 nós teríamos possivelmente chegado ao nosso destino mais cedo, a pesar de talvez ter que pedalar uns quilômetros a mais.

Hostel in Najera
Albergue em Najera

A próxima cidade foi Najera, onde paramos rapidamente em um albergue para carimbar nossas credenciais e descansar por uns minutos. Najera tem uma interessante formação rochosa, quase como que uma parede de pedra de um lado da cidade o que nos levou a algumas subidas em estradas de terra, que, entretanto, estavam em boas condições.

Rocky wall in Najera
Parede de pedra em Najera

Pela primeira vez começamos a ver sinais (a cada 5 Km) indicando a distância que faltava para Santiago. Eu tentei tirar uma foto em um deles (o que indicava 580 Km para Santiago). Esta região é marcada pelas plantações de oliveiras, que são os pequenos arbustos que vocês podem ver no vídeo.

580 Km to Santiago
580 Km para Santiago

Depois de Azofra o caminho foi essencialmente apenas em estradas de terra e ao se aproximar de Cirueña existe uma grande subida em que tivemos que empurrar as bicicletas por uma boa distância por causa das pedras e das condições da estrada. Com o sol a pino nas nossas cabeças e nenhuma sombra para se esconder essa subida não foi muito fácil.

Near Cirueña
Perto de Cirueña

Cirueña é pequena mas tem um grande e luxuoso (aparentemente) campo de golfe no qual o restaurante aceita peregrinos e oferece preços especiais (nós não paramos, mas o almoço estava indicado custar 6€ e o café da manhã 3€). Nós paramos rapidamente em um restaurante no centrinho do vilarejo para descansar um pouco e tomar um pouco de agua. Deixamos Cirueña pedalando na LR-204, uma estrada vicinal, que nos levou diretamente a Santo Domingo de la Calzada onde paramos para pernoitar. Quase que ao mesmo tempo que nós, a Paula também chegou em Santo Domingo e nos encontramos com ela ao chegarmos lá. Se tivesses combinado provavelmente não teria dado tão certo.

Bike Pilgrims are nothing new.
Bicigrinos não são novidade. Existem desde que bicicletas existem.

Paula, Fernando e eu pernoitamos no mesmo albergue, o da “Abadia Cisterciense“, administrado pelas irmãs do mosteiro de Nossa Senhora da Anunciação. O albergue é bem básico e os quartos pareciam ser meio apertados, com quartos nos quais era necessário passar por outros quartos para se chegar a eles. A edificação foi construída em 1609 tendo, portanto, mais de 330 anos, o que explica o design estranho. Os quartos que eu vi não tinham beliches, apenas camas. O custo do pernoite neste albergue é 5€.

Paula, Elenice and Fernando
Paula, Elenice e Fernando

Depois de nos assentarmos, tomar banho e tudo mais, a Paula, o Fernando e eu saímos para procurar um lugar para jantar. Foi no restaurante que encontramos com a Elenice, também de São Paulo. Depois da janta saímos, nós 4, para caminhar pela cidade. A Elenice estava fazendo o caminho a pé e por isso, infelizmente, não nos encontramos mais, mas continuamos a manter contato através do Facebook. Por incrivel que parece fiquei sabendo que a Paula e a Elenice acidentalmente se encontraram uma pequena cidade chamada São Paulo depois que retornaram da peregrinação. Mundo pequeno esse, não?

View of Santo Domingo´s Cathedral
Vista para Catedral de Santo Domingo

Se você visitar Santo Domingo, assegure-se de entrar na catedral pois ao lado do altar existe pequeno galinheiro com uma galinha e um galo vivos, o que pode parecer esquisito, até que você lê sobre a lenda da galinha que cantou depois de assada. Dizem que se o galo cantar ao voce entrar, o seu caminho será bem sucedido… 🙂

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Caminho de Santiago: Dia 3 - De Puente la Reina para Viana

Este post é sobre o 3o. dia da nossa peregrinação de bicicleta pelo caminho de Santiago.

Puente la Reina (The Queen´s Bridge)
Puente la Reina (Ponte da Rainha)

Antes de dar início devo avisar que o vídeo (Time-Lapse) inicia 2 Km após deixarmos Puente la Reina, onde havíamos parado no dia anterior. Eu achei que havia ligado a câmera ao sair do Albergue, mas descobri que não. Infelizmente o dia não iniciou com um “Time-Lapse” e sim com um “Memory-Lapse” 🙂

Completamos esta etapa de 63.67 Km de Puenta la Reina a Viana em 8h e 11m, dos quais 4h 55m foram em movimento.

Ao deixar o albergue enquanto estávamos arrumando a carga nas bikes conhecemos a Paula de São Paulo. Ela também estava pedalando o Caminho de Santiago, mas já estava na estrada a muito mais tempo, pois deu início a sua peregrinação na catedral de Notre Dame em Paris. Nós encontramos com ela várias vezes ao longo do caminho nesse dia e algumas outras vezes até Santiago de Compostela.

Fields near Cirauqui
Campos próximos a Cirauqui

Deixamos Puente la Reina por volta das 7:40 de manhã não sabendo direito onde iriamos parar nesse dia. O clima melhorou muito como podem ver e tivemos um lindo dia de sol o dia todo. Como em dias anteriores deixamos o albergue sem ter tomado café da manhã. Paramos 47 min mais tarde em um pequeno vilarejo chamado Cirauqui, aprox. 10 Km de Puente la Reina.

Poppies everywhere
Papoulas vermelhas em todo lugar

Na Espanha o café da manhã não é uma refeição grande. As pessoas geralmente só tomam uma xicara de café e comem uma torrada ou algum doce de massa folhada. Minha estratégia, no entanto, era a de comer apenas 1 vez por dia durante a pedalada e jantar mais cedo ao chegar no meu destino. Eu não gosto de pedalar logo após ter comido muito. Me sinto pesado e cansado e meu desempenho é ruim.

Depois do pequeno café da manhã continuamos pedalando na NA-1110 que foi a estrada que rodamos o dia inteiro, com exceção do percurso que eu fiz na trilha dos peregrinos depois que deixamos Irache, mas estou me adiantando.

Water Fountain in Estella
Chafariz de água em Estella

Ao chegarmos a Estella, após atravessarmos o rio Ega, decidimos entrar nessa cidade histórica para dar uma olhada em volta. Alguns minutos depois encontramos novamente com a Paula e tiramos algumas fotos juntos.

Paula, Fernando and Me in Estella
Paula, Fernando e eu em Estella

Pouco depois de deixar Estella chegamos em outro marco ao longo do caminho de Santiago: A vinícola conhecida como “Bodegas Irache” onde fica a famosa fonte de vinho. A vinícola fica ao lado do mosteiro de Irache que também é um marco ao longo do caminho.

Irache Monastery
Mosteiro de Irache

O mosteiro foi inicialmente utilizado como um hospital de peregrinos e entre 1615 e 1824 foi também uma universidade pontifica, a primeira Universidade do Reino de Navarra.

A pesar de ser chamada de fonte de vinho, o vinho não flui continuamente. Como em bebedouros de agua modernos você tem que pressionar um botão para o vinho tinto fluir. O vinho vem em temperatura natural e não foi muito do meu gosto.

Wine and Water fountains of Bodegas Irache
Fontes de Vinho e água das Bodegas Irache

Esse lugar está sempre cheio de gente tentando provar o vinho ou tirando fotos deles próprios e da fonte.

Depois de Irache, eu queria experimentar pedalar um trecho na trilha dos peregrinos que vão a pé, por isso Fernando e eu nos separamos. Eu peguei a trilha e ele continuou na estrada e combinamos nos encontrar mais tarde em uma cidade chamada Los Arcos.

Riding the walker´s path
Pedalando pelo caminho dos andarilhos

Os primeiros 2 Km foram ao longo de uma trilha estreita com vários graus de dificuldade dentro de uma floresta. Tive que empurrar minha bicicleta várias vezes por causa das grandes pedras e outros obstáculos. O legal é que a floresta cobria o sol forte e tornava muito agradável a pedalada.

Os 8 Km restantes foram em estradinhas de terra, cheias de pedras, areia e de maneira geral difícil de pedalar com uma bicicleta touring carregada. Infelizmente esse trecho também era em sua maioria subida levando a alturas de mais de 700 m em alguns lugares, o que é mais alto que a subida ao Alto del Perdón do dia seguinte. Se você for fazer o caminho pela trilha dos andarilhos, faça-o sabendo das consequências antes de você optar por ele.

Levei 1,5h para fazer apenas 10 Km até um vilarejo chamado Luquin, onde encontrei com o asfalto de novo. Outros 1.5 Km e eu estava de volta na estrada NA-1110 na qual eu decidi ficar pois achei que já havia sofrido o suficiente neste dia.

Los Arcos indeed
Los Arcos, de fato.

Para fazer os 10 Km que separavam este ponto de Los Arcos levou apenas 35 minutos.

Quando eu cheguei em Los Arcos, O Fernando e a Paula já estavam lá a algum tempo. Como meu café da manhã tinha sido pobre, eu estava faminto e a Paella do restaurante em que a Paula e o Fernando estavam sentados se mostrou irresistível 🙂

Paula and Fernando in Los Arcos
Paula e Fernando em Los Arcos

Ficamos ali quase 1h… comemos, conversamos, tomamos um monte de suco e um sorvete. Foi realmente uma parada muito agradável na companhia de um velho e um novo amigo(a).

Ao voltarmos para a estrada depois dessa ótima parada em Los Arcos nosso objetivo era dormir em Logroño, mas o dia tinha se tornado muito quente e com as subidas e descidas para Viana acabamos cansando bastante.

Church in Viana
Igreja Matriz em Viana

Chegamos em Viana pouco antes da 5 da tarde e tínhamos intenção de apenas carimbar nossas credenciais e seguir adiante. Porém, o escritório de turismo da cidade estava fechado e só abriria as 5:30. Resolvemos sentar um pouco para descansar a acabamos decidindo pernoitar lá mesmo.

View from the ruins of the San Pedro Church
Visão a partir das ruina da igreja de San Pedro.

Viana foi oficialmente fundada em 1219 com um claro objetivo defensivo contra o reinado de Castile. Se situa no topo de um morro e o layout urbano é de um quadrado fortificado, com ruas estreitas cercadas por parte de seus espessos muros medievais.. Nós caminhamos um pouco ao redor da cidade antes de nos dirigirmos para o albergue e uma das partes mais interessantes da cidade foram as ruinas de Igreja de San Pedro, que desmoronou em 1844 devido aos estragos causados durante 2 guerras entre 1808 e 1840.

Door to the ruins of the San Pedro Church
Porta das ruinas da igreja de San Pedro

Nós ficamos no albergue municipal, chamado Albergueira Andrés Muñóz que é bom e não estava cheio. Pagamos 8€ pelo pernoite. Haviam várias camas vazias no quarto em que dormimos. Ficamos no quarto de baixo, logo após a cozinha / sala de jantar. O quarto tinha 4 beliches com capacidade para 8 pessoas e tinha também armários de metal com chave que necessitavam uma moeda de 1€ para operar.

Entrance to the Albergue (hostel)
Entrada do Albergue.

O banheiro/toalete ficava logo ao lado do quarto e era limpo com uma boa ducha quente. As bicicletas ficaram na lavanderia. Haviam 2 maquinas de lavar roupa e uma de secar na lavanderia e aproveitamos para lavar roupa (eu acho que custou 4€ inc.. O sabão em pó). Havia WiFi gratuito no albergue e funcionava no nosso quarto, a pesar do sinal ser fraco.

View from Viana
Visão de Viana

Jantamos em um dos muitos restaurantes da cidade e pagamos 8€ pelo menu do peregrino, mas 3€ por um copo de cerveja uma vez que declinamos a oferta de vinho.

View from Viana
Visão a partir de Viana

Eu havia tomado muito sol durante o dia e acabei ficando com insolação (febre solar) naquela noite. Ao sair do restaurante a brisa fresca mais parecia como um vento ártico para mim, por isso enquanto o Fernando foi caminhar um pouco eu voltei imediatamente para o Albergue para navegar um pouco na internet antes de dormir.

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Caminho de Santiago: Dia 2 - De Roncesvalles para Puente la Reina.

Se você é do tipo de pessoa que não gosta de ler, eu facilitei as coisas para você. O vídeo abaixo é uma transcrição praticamente completa deste texto, com algumas pequenas diferenças. Fique a vontade, portanto, para assistir ao video e pular o artigo se você quiser.

Então você gosta de ler? Que bom para você pois eu menti… 🙂 Inclui mais informações no texto que no video. Para complementar a leitura adicionei alguns links para paginas que achei enquanto estava fazendo uma pesquisa para este artigo.

Leaving Roncesvalles
Deixando Roncesvalles

Completamos essa etapa no dia 26 de maio de 2015 e de acordo com meu Garmin levamos 8 horas e meia para completar os 80 Km que separam Roncesvalles, de onde partimos nesse dia, até Puente la Reina onde decidimos pernoitar. Comigo estava Fernando, meu parceiro na peregrinação.

Tendo feito apenas 30 Km no dia anterior nós queríamos nos puxar um pouco neste 2o. dia para nos aproximarmos da meta média de 60 Km por dia que havíamos estabelecido. Esta meta provou ser desnecessária mais tarde, mas tínhamos que considerar algum tempo de folga para o caso de termos problemas durante a jornada. Tínhamos também a intenção de pedalar até o Cabo Finisterra caso chegássemos em Santiago com tempo para isso.

Deixamos Roncesvalles pouco antes da 8 da manhã. Não sabíamos naquele momento exatamente onde iriamos parar nesse dia. Puente la Reina era uma das opções que estamos considerando, mas não queríamos nos ater a um plano rígido. O dia começou bastante chuvoso. De acordo com o Garmin a temperatura as 8 da manhã era de 12C caindo para 5C uma hora mais tarde à medida que começamos a subir o Alto do Erro. A temperatura máx. do dia foi de 19C por volta das 2:30 da tarde. Não estava necessariamente frio, mas com o vento era necessário vestir uma blusa de pedalar.

Alto de Erro, 801m.
Alto de Erro, 801m.

Roncesvalles está ainda situada em um ponto médio da montanha (Pirineus). Depois de uma descida total de uns 200m, com algumas subidas ao longo do primeiros 17 Km, começamos uma longa subida de 3 Km para chegar no Alto do Erro que está a 801m acima do nível do mar. Nós paramos lá por alguns minutos para tirar algumas fotos.

River Arga, crossing Zubiri.
Rio Arga em Zubiri.

Eu tinha comido apenas uma banana e uma barra de cereais ao sair de Roncesvalles. Isso se tornou mais ou menos normal para mim durante toda a jornada, com uma parada para café da manhã 1 ou 2h depois ao longo caminho. Depois de sairmos do Erro pedalamos outros 7 Km e decidimos parar para comer em Zubiri, um lindo vilarejo. Este foi o local onde encontramos com o Rio Arga pela primeira vez que flui por quase 20 Km em paralelo com a estrada até Pamplona.

Tortillas de Patatas (Potato Omelet)
Tortillas de Patatas (Omelete de Batatas)

Pela quantidade de albergues e hotéis que vi para um lugar tão pequeno, aparentemente o vilarejo vive exclusivamente do turismo promovido pelos peregrinos. Meu café da manhã incluiu 2 fatias de um delicioso omelete com batatas (Tortillas de Patatas) alguns croissants e um rolo de chocolate acompanhado de café e suco de laranjas espremido na hora. Tem muitas coisas do caminho que eu sinto falta

Zubiri viewed from the Stone bridge
Zubiri visto da Ponto de Pedra

agora, mas o suco de laranja fresquinho, espremido na hora, é uma das coisas que estão no topo da lista. Na Inglaterra isso simplesmente não existe e até mesmo em lugares que oferecem sucos de laranjas naturais o sabor não chega nem perto ao das laranjas espanholas, doces e pouco acidas. De barriga cheia fizemos uma pequena caminhada até a antiga ponte sobre o rio Arga e tiramos algumas fotos. Também carimbamos nossa credencial de peregrino e continuamos seguindo em direção a Pamplona.

River Arga on the outskirts of Pamplona
Rio Arga nos suburbios de Pamplona

Seguimos ao longo da estrada N-135, ou “carretera” como dizem em espanhol, até próximo a Pamplona onde pegamos uma ciclo faixa ao longo do rio. O Arga também cruza uma parte de Pamplona. Ao chegarmos próximos a Pamplona paramos por um minuto para contemplar as cenas serenas que o rio proporcionava e tirar algumas fotos.

Bull running Monument (Encierro)
Monumento à corrida de Touros (Encierro)

Nossa passagem por Pamplona foi muito rápida. Pamplona é a cidade onde a famosa corrida de touros ocorre, também chamada de Encierro. Em Pamplona nós apenas paramos por alguns minutos no centro para tirar fotos junto ao monumento da corrida de touros e no escritório do peregrino para carimbar nossas credenciais. Neste ponto da nossa jornada nós estávamos com um pouco de pressa e não queríamos nos ater a um lugar por muito tempo. Nós também sabíamos que iriamos voltar a Pamplona pois era lá que iriamos ter que devolver o carro de aluguel que havíamos reservado para o retorno de Santiago.

The Citadel in Pamplona
A Cidadela de Pamplona

Nós cruzamos a cidade e nos perdemos um pouco no parque onde fica a Cidadela, mas isso nos permitiu tirar algumas fotos deste impressionante e antigo complexo militar. Ao deixarmos a cidade para cenas mais rurais nós encontramos com um ciclista local que nos aconselhou a não subir o “Alto del Perdón” (Morro do Perdão) pelo caminho dos andarilhos. O Alto del perdon é um grande marco ao longo do caminho de Santiago. A companhia

Alto del Perdón
Alto del Perdón

que opera as turbinas de vento nesta montanha instalou uma séria de esculturas em bronze homenageando os peregrinos que por lá passam. A rota pela estrada é uns 4 Km mais longa que pelo caminho dos andarilhos. Apesar de eu entender perfeitamente porque Fernando estava relutante em pegar o caminho dos andarilhos eu confesso que fiquei um pouco desapontado. Eu só entendi o tamanho da dificuldade ao chegar no topo e ver outros peregrinos empurrando suas bicicletas. Para chegar ao Perdon pegamos a NA-6004, dobramos a esquerda na NA-1110, na direção de Astrain, que é paralela a autoestrada N-12 . A subida foi longa mais perfeitamente pedalavel, até mesmo quando você deixa a NA-1110 para pegar a NA-6056 que é a estradinha que sobe o morro ao longo das turbinas de vento.

Panoramic View from Alto del Perdón
Visão panorâmica do Alto del Perdón

Eu acredito que a chegada ao topo do Perdão provem ao peregrino a primeira grande sensação de realização. A altitude registrada pelo Garmin foi de 683m o que de longe não é a mais alta montanha do caminho, mesmo assim, talvez por ser tão famoso ou pela longa subida, algo nesse local causou uma grande impressão em mim e em ambas os lados da vista.

Alto del Perdón
Alto del Perdón

De um lado vê-se a cidade de Pamplona ao longe e do outro tem se uma maravilhosa vista do vale onde Puente la Reina está situada. As vistas são magnificas, mas eu acho que as imagens valem mais que mil palavras. Ah, e se por sinal você estiver se perguntando porque existem tantas turbinas de vento na Espanha o barulho que você vai escutar em um momento deve ajudar a explicar porque. Como diz o ditado, tudo que sobe desce, não é uma surpresa que depois do Perdão você encara uma longa descida. A estradinha pela qual subimos ao longo das turbinas é meio esburacada e requer cuidados, as depois que você chega a perfeita pista de rodagem da estrada principal dá para soltar a bicicleta com confiança. De fato, foi neste trecho que registrei a velocidade mais alta em uma bicicleta de todo o caminho e provavelmente de toda minha vida: 74.8 Km/h de acordo com meu Garmin. Uma grande adrenalina.

Arriving in Puente la Reina
Chegada em Puente la Reina

A distância entre o Alto del Perdón e Puente la Reina é de aprox. 10 Km e é na sua maioria descida por isso chega-se a Puente la Reina relativamente rápido. Que graciosa esta pequena cidade é… e seu marco principal: A ponte românica sobre o rio Arga (sim, o mesmo que cruza Pamplona). A ponte foi construída por ordem da rainha Mayor (por isso o nome “Puente la Reina” ou Ponte da Rainha) para permitir que os peregrinos cruzassem o rio em segurança.

Puente la Reina (The Queen´s Bridge)
Puente la Reina (Ponte da Rainha)

Nos pernoitamos no “Albergue de peregrinos de los padres reparadores” que custou apenas €5. O albergue é bem simples e se você foi do tipo chato você pode ter problemas com os banheiros/chuveiros e com o fato que existem pouco tomadas nos quartos o que causa um pouco de conflito entre aqueles que querem carregar seus celulares e outras engenhocas. Um peregrino deixou seu telefone carregando no banheiro úmido ficou lá por quase 1h enquanto o telefone carregava, algo que eu nunca faria.

Puente la Reina
Puente la Reina

No dia seguinte, ao deixarmos o albergue, encontramos com a Paula pela primeira vez. A Paula é de São Paulo e também estava fazendo o caminho de bicicleta com a diferença que ela havia partido da catedral de Notre Dame em Paris. Bom, por hora é isso. Tentarei produzir um artigo por semana. Apesar de eu estar me beneficiando do exercicio de escrever tudo em tres idiomas não tem sido fácil encontrar tempo de fazer isso. Eu vou completar esse série sobre o Caminho nos 3 idiomas que me propus escrever, mas no futuro talvez venha me concentrar a escrever apenas em Inglês.

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